Prova teve ainda o samba enredo da Mangueira, de 2019, como texto de apoio
Neste domingo (03) começou em todo Brasil a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Cerca de 4 milhões de candidatos responderam a 90 questões, sendo 45 de linguagens, 45 de ciências humanas, além de uma redação dissertativa-argumentativa. A redação deste ano abordou: Desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Os participantes dissertaram sobre o tema com o apoio de textos referências, dentre eles, o samba enredo da Estação Primeira de Mangueira de 2019.
No mês da consciência negra, a abordagem do tema foi positiva para muitos. Jonathan Silva, estudante de 21 anos, aprovou e se demonstrou surpreso, “eu fiquei feliz e muito surpreso com o tema da redação. Nós, negros, enfrentamos o racismo estrutural todos os dias e poder ver a herança africana no Brasil no exame dá um certo conforto… De certa forma é uma maneira de dar luz às nossas questões”.
A redação dissertativa-argumentativa desafia o candidato a se expressar sobre o tema, testando o seu conhecimento sobre o assunto abordado. Falar sobre a herança africana na prova deste ano representou um termômetro importante para muitos profissionais da educação que debatem o racismo diariamente nas escolas. Valbert Cruz, professor de língua portuguesa da rede municipal de ensino do Rio, comemorou a presença do assunto em um dos exames mais importantes do país.
“É a certeza de que não iremos sucumbir. Como professor negro, senti que esta abordagem no Enem serviu como um termômetro para sabermos como isto tem sido pensado e debatido. O ensino médio passa por uma reforma… Vejo como positivo o tema ganhar destaque no Enem, pois, através disso, podemos discutir a criação de mais disciplinas eletivas voltadas para a cultura e a história preta neste país. Só através da educação conseguiremos, de fato, combater o racismo estrutural que acabam suprimindo a cultura e a existência preta no Brasil”.

Como material de apoio, o exame destacou o samba enredo da Estação Primeira de Mangueira de 2019, ano que agremiação foi campeã com o enredo: Histórias para ninar gente grande. A letra do samba, na íntegra, foi aplicada no exame e os candidatos puderam utilizá-la na construção das suas narrativas. A presidente da Mangueira, Guanayra Firmino, celebrou esta menção:
“Muita gente talvez não pense nas escolas de samba como lugares que educam, seja por desconhecimento ou preconceito. Mas elas educam e, como vimos no Enem, muito para além do chão de suas próprias comunidades. Nós fazemos toda a sociedade brasileira pensar nos temas da negritude, e, portanto, da herança africana. É um jeito de fazer história. De fazer uma outra história”.
