41 anos do MST: lutas, conquistas e esperança

Em 2025, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) celebra 41 anos de muita luta pela reforma agrária, o acesso à terra, a segurança alimentar e a dignidade para muitas pessoas.

O Rio 360º Notícias conversou com a deputada estadual Marina do MST (PT) que coordenou o escritório nacional do MST em Brasília. Ela nos conta um pouco sobre os desafios e conquistas do movimento.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) celebra 41 anos. Como é fazer parte desse movimento que luta por melhorias na vida dos trabalhadores e trabalhadoras, do campo à cidade?

O MST é uma presença fundamental na minha história. Conheci o movimento com 14 anos, lá no Paraná. Desde então, são mais de 35 anos de militância. Me sinto fruto do MST, mas também parte dele, porque ajudei a construir esse movimento que nos ensina muito, nos forma, nos dá uma outra perspectiva de vida e de compreensão sobre o mundo. Sinto um honra enorme de fazer parte disto e de crescer nas trincheiras de luta junto com o movimento, que ainda é muito necessário para o nosso país.

Ao longo dessas quatro décadas, o MST tem garantido acesso à terra, segurança alimentar e dignidade a muitas pessoas. A luta pela reforma agrária é vista como um caminho necessário para construir um país mais justo e solidário?

O Brasil tem uma das maiores concentrações fundiárias do mundo, e isto é um reflexo de séculos de desigualdade, desde a colonização. A luta pela terra e por meios de produção é a única possibilidade de milhares de famílias assegurarem seu sustento. E todo o país precisa disso. A Reforma Agrária resolve problemas do campo, mas também gera desenvolvimento e melhores condições de vida para a cidade. São os pequenos agricultores que garantem a comida na mesa do brasileiro, enquanto os grandes latifúndios estão preocupados em gerar cifras astronômicas de commodities para exportação. Além de produzir alimentos saudáveis, saborosos e ecológicos, a Reforma Agrária Popular é crucial para se pensar em um novo modelo de desenvolvimento com mais justiça social e econômica.

O MST realizou pela primeira vez a reunião da Coordenação Nacional na região amazônica, em Belém (PA). O encontro ocorre em um momento crucial, já que a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP 30) será realizada na capital paraense em novembro deste ano. Qual a expectativa do MST?

O MST está muito envolvido na construção da Cúpula dos Povos, que é um evento paralelo à COP 30 organizado pelos movimentos populares para discutir e entender todos os limites e contradições que escapam a esse espaço da ONU. A gente entende que a COP é uma grande negociação entre países e empresas transnacionais que propõe paliativos, mas não encara de frente os problemas. É necessário mostrar outros lados, outras alternativas a esse modelo de desenvolvimento que gera cada vez mais desigualdade. Uma das alternativas fundamentais para resolver as questões climáticas é a própria Reforma Agrária.

A senhora foi eleita com mais de 46 mil votos, sendo a primeira mulher sem terra a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Quais os principais desafios? Fale um pouco sobre a proposta de seu mandato.

São muitos desafios, principalmente em um estado como o Rio de Janeiro, que vive uma recuperação fiscal e é liderado por um governador que vende nossos bens, como a Cedae, sem prestar contas. Apesar disso, nos últimos dois anos, temos tido boas experiências e resultados. Temos feito um trabalho importante à frente da Comissão de Segurança Alimentar da Alerj, da qual sou presidente, e vamos seguir combatendo a fome e promovendo políticas públicas em favor da democracia e da igualdade.

A senhora sofreu ataques de bolsonaristas na cidade de Nova Friburgo em 2023. Qual sua leitura política desse ato?

O ataque não foi direcionado apenas a mim, mas à própria democracia. Isso é muito grave, não pode acontecer. Nós não vamos aceitar este tipo de violência a uma deputada democraticamente eleita, que estava ali em um momento de prestação de contas de seu mandato. Por isso, nossa resposta foi contundente. Levamos o caso à Justiça e os agressores foram condenados. Seguimos firmes na luta, de cabeça erguida, construindo políticas públicas para todo o povo fluminense.

A senhora também defende o fortalecimento da democracia institucional que foi duramente ameaçada desde o golpe que tirou a presidenta Dilma Roussef do poder até o último governo. Com o presidente Lula, ocorre o fortalecimento de uma democracia popular e participativa. O que o podemos esperar?

Acho importante parabenizar o governo Lula, acredito que está indo pelo caminho certo, recuperando o que foi quebrado, reabrindo instrumentos de participação que Bolsonaro fechou. O MST vai seguir em diálogo, mas pressionando o governo pela Reforma Agrária, como foi destacado na Carta da Coordenação Nacional, resultado do encontro de dirigentes em Belém (PA), neste mês. O Brasil ainda tem 100 mil famílias Sem Terra acampadas. Também faremos pressão para a demarcação de territórios indígenas e reconhecimento de territórios quilombolas. Temos boas perspectivas para o futuro.

Que mensagem aos brasileiros e brasileiras a senhora deixa nestes 41 anos do MST?

Vale a pena acreditar e lutar por um Brasil soberano e mais justo para os brasileiros. Só a organização popular tem esse poder.

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